A nuvem e o elefante #13

Entrei mais que depressa, fechei a porta e dei duas voltas na chave. Virei de costas e não consegui conter as lágrimas, meus pés deslizaram no chão e quando sentei, meus braços fizeram a volta em meus joelhos. Em um abraço genuíno eu voltei pra casa.

Chorei sem parar por algumas horas, parecia que uma nuvem cinza pairava sobre a sala inteira, mas quem chovia era eu. Tamanha dor me fez dormir. Sim, exatamente como naquele dia de dois mil e quinze, você sabe.

— Senhor elefante, você por aqui?

— Sim, eu por aqui, pequena nuvem. Parece que foi você quem me chamou, não foi?

— Eu fiz tudo o que podia, senhor. Fui quase até o nordeste, fui sem chover na ida, chovi na volta, me envolvi em tempestades, afastei furacões e até provoquei o sol, mas não foi o suficiente. Acho que é por isso que você está aqui. Mas eu não queria que você viesse porque essa sua gigante pata dói quando posta em meu peito.

— Minha pequenina, não é a minha pata que está aí, isso não existe. O que está sentindo são as suas inseguranças e autocobrança. Você parece não se achar o suficiente porque se fez querer caber em um espaço limitado do céu. Veja que, você transitou todo esse tempo em linhas que te faziam sentir estar segura e você fez o que podia dentro delas, o que considerava ser o certo. Isso já é o suficiente. E você se cobra porque queria que aquele céu também visse essas linhas que você percorreu, que também participasse disso. Mas nuvenzinha… ele é céu nesse momento e você é nuvem. Entende a diferença?

— Compreendo, mas não consigo sentir isso, me sinto sozinha agora.

— E está tudo bem, este é o processo natural da cura. Daqui a pouco você vai entender melhor.

Como eu posso te ajudar agora?

— Só me abraça, senhor elefante. Me abraça porque preciso chover tudo o que não chovi antes.

Quem em sã consciência sonha com um elefante e uma nuvem? Mas quem hoje em dia é completamente são?

Espero que tenha encontrado as suas respostas também.

Com amor,

Kauany.